segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Deve ser duro. No duro, na bucha...

Não acredito em relacionamentos; eu fujo de relacionamentos, não acredito que alguém vá gostar de mim; não faço questão que alguém goste de mim e não gosto de quem gosta; não quero atenção; não quero ser o centro das atenções; não sou guriazinha idiota que grita quando vê uma barata ou em situações de stress; odeio usar vestido, salto alto e maquiagem mesmo assim não sou lésbica nem simpatizante da causa; não gosto de beber; não gosto de ir à balada e conhecer “novas pessoas”; não quero ter relações, quaisquer que sejam elas, com meus amigos e depois ter que fugir; não gosto de fazer as malas nem de planejar uma viagem; não gosto de papos idiotas; não gosto de falar com desconhecidos; odeio quem tem ciúme, mas tenho ciúme do meu lap-top; odeio que digam que sou um gênio, muito inteligente, muito capaz, que fui laureada na faculdade, etc etc...isso é tudo mentira, sou uma trouxa que nas horas vagas ficava em casa isolada estudando e não recomendo isso a ninguém; odeio cigarros e a fumaça que eles produzem; falo demais; sou chata; vejo vultos ou algo similar a vultos; gosto de jogar vídeo-game e ler literatura infanto-juvenil para retardados; trabalho com uns insetos que ninguém sabe da existência; sou uma palhaça de circo e geralmente faço os outros rirem da minha cara com piadas e frases estúpidas; almoço no RU mesmo podendo comer em casa; quero que o mundo exploda e seja sugado por um buraco negro; quando eu era pequena eu me fantasiava de Batman e queria me pendurar no lustre, vejo uma figura paterna em qualquer ser de mais idade que acho em qualquer esquina; odeio ir a igrejas e ouvir falar na lavagem de pecados ou coisas similares; quero viver em clausura; não sei dizer o que penso; me irrito facilmente; não termino nada que eu começo; sou uma gorda mórbida; vou pra Porto Alegre antes da defesa do Nuno e nem vou falar nada e isso me torna um monstro; odeio escrever; sou feia pra porra; só me fodo e tudo é mais difícil para eu conseguir; tenho a síndrome da baixa auto-estima, sou nerd; morei na Europa, mas e daí?; odeio assistir romances, dramas e porcarias do gênero; não sou um exemplo de dama; sou um fracasso e nem sei disso ao certo...

sábado, 3 de outubro de 2009

Uma cobra!!!!! Onde? Nas nossas coisas????

Bom, voltei da Amazônia e não posso deixar de postar sobre essa célebre frase. Isso ocorreu há alguns anos atrás, quando eu não tinha muita experiência de campo (não que eu tenha muita hoje em dia, mas que tá melhor que alguns anos atrás, isso ninguém discute). Estavamos caçando cercopidae e cigarras numa tarde seca e ensolarada, em Guaíba, Rio Grande do Sul (no sítio do professor Matzenbacher). Eu, minha amiga Jú, o Ângelo (agora na USP trabalhando com Odonata) e sua namorada. Eu recém ingressara no mestrado e tinha a sensação do que ainda poderia salvar o mundo ou mudar alguma coisa nele e que a ciência me levaria às estrelas. Naquela época eu esperava demais de um campo e sempre que eu me deparava com a realidade de que coletas nem sempre são produtivas e os bichos nem sempre pulam dentro do aspirador entomológico por vontade própria, ficava um tanto quanto frustrada. Esse foi um desses dias, nada de coleta nada de bichos. Jogamos as mochilas no chão e graças ao meu olho "treinado" em ver cobras eis que exclamo para a minha parceira:
- Uma cobra!!!-
Eis que ela me responde.
- Onde? Nas nossas coisas?-
Pode parecer sem graça, mas na hora foi hilário, uma frase de efeito, e imaginar que a cobra entraria dentro da mochila dá ainda mais efeito na frase.
Como por milagre tenho uma fotografia desse dia que permaneceu na história. Ela está logo acima, como pode-se observar: um aspirador entomológico de vidro e um guarda-chuva entomológico. Ooooo tempo...
Voltando ao assunto cobras pude me deparar com alguns desses seres encantadores na Amazônia e graças a uma máquina fotográfica poderosa e boa vontade elas foram fotografadas. Duas arborícolas na Reserva Ducke, e uma jibóia em Presidente Figueiredo nas proximidades de um cupuaçú. Obrigada F.F. Xavier Filho pelas ótimas fotos e pelo boa vontade em tirá-las.
E eis que digo:
-Uma cobra!!!-
-Onde? Nas nossas coisas?-
- Não nas árvores. Portanto, olhe pra cima na trilha!-




ERA ISSO...

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sempre tenho a impressão de estar esquecendo alguma coisa...



Sempre tenho essa sensação e geralmente ela está certa...
A pergunta é óbvia: O que levar para o campo?
Coisas básicas:
* chapéu rídiculo,
* calças camufladas que já sabem andar sozinhas,
* canivete para matar possíveis agressores,
* água potável para evitar giardíase ou outras complicações,
* rede entomológica,
* boa vontade,
* repelente,
* alcool,
* acetato de etila para matar insetos (não para usar como droga por favor não interprete mal),
* recipientes para acondicionar insetos...
.
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E assim vai...
Só estou postando todas essa droga porque estou muito nervosa, talvez por uma ida a Amazônia ter sido um sonho de adolescência (note: enquanto as meninas convencionais pensavam em namoros convencionais ou no que sairia na capa da próxima Atrevida eu me imaginava explorando a Amazônia...CREDO) ou ser um sonho de todo o biólogo.
Enfim voltando ao assunto
o que eu preciso levar?
(Andressa segue enumerando coisas com aquela sensação de estar esquecendo algo)...
FIM

sábado, 1 de agosto de 2009

Fatos casuais baseados em história real...


Um sábado qualquer. Um ônibus qualquer seguindo seu roteiro pré-estabelecido e monótono. Uma parada atrás da outra, a voz mecânica repetia as mesmas instruções para os passageiros acerca de depredações e fatores similares a cada tubo que atingia. Eles haviam se acomodado no ultimo banco, os três juntos: Urso, Fumo e Onun. A quantidade mínima de vinho que Fumo havia bebido deixara seu cérebro em um estado de semi-torpor involuntário. Naquele momento limitava-se a olhar para Urso enquanto a vida lhe era semelhante a um grande morango vermelho, carnudo e perfumado. Devaneios após devaneios. Algum maloqueiro sujo e mal cheiroso cantava uma música desconhecida composta por versos incompreensíveis para a raça humana normal. Fumo resolveu falar alguma coisa, sem pensar que talvez suas palavras resultassem numa reação pouco comum por parte de Urso: um soco, uma resposta ríspida ou alguma outra forma de implicância pouco convencional.
- E as vozes?- pela sua expressão poderia estar curiosa.
- Continuam em seu devido lugar. - respondeu como se aquilo fosse extremamente normal.
- Mas elas costumam ficar sempre ai?-
- Na maioria das vezes. -
- Elas mandam você fazer coisas?-
- Mandam. - olhou para frente enquanto piscava e notava algum passageiro deixar o veículo. – O tempo todo. - continuou.
- Mandam você fazer coisas ruins?- agora realmente demonstrava curiosidade, sua noção de bem e mal sempre fora conturbada e ultimamente este fato estava cada vez mais aparente.
- Às vezes. - respondeu como se estivesse na panificadora pagando o que havia requisitado ao padeiro.
- E você executa essas ordens?- seus olhos se arregalaram, a pupila levemente dilatada. O silêncio reinou entre eles. Onun parecia estar em outro plano. Fumo continuava interessada e Urso utilizou seu dom de conseguir ficar mudo e não esboçar nenhuma reação visível aos olhos dos mortais permanecendo em um silêncio meditativo.
- As vozes já pediram que você me matasse?- a voz embargada seguida pela vontade de saber e conhecer a verdade.
- Ainda não. – ele disse por fim.
Talvez ficou com um sentimento de culpa ao refletir sobre a conversa. Isso nunca iríamos saber. Olhou-a novamente, desta vez sorrindo, o que a deixou aliviada, pois ela sentia-se mais confortável quando ele estava sorrindo
- Que conversa de louco.-
- Vou escrever isso.-

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Minha cabeça fundiu devido ao esforço excessivo...

Sentou na beirada da calçada: os cabelos desgrenhados e armados, o rosto sujo e oleoso. Passou a mão retirando o suor da testa e ajeitando o chapéu. As calças camufladas tinham um talho na região da virilha, mas ela não se importava. Na verdade ninguém se importava ou mesmo notava sua existência banal. A regata preta estava puída, mas ela também não se importava. Pensou que talvez fosse hora de renovar seu desodorante, mas ela o tinha esquecido. “Ah quem iria se importar... eu não passo de um fantasma mesmo!” Um vira-lata branco com algumas manchas tigradas pelo corpo se aproximou chacoalhando a cauda felpuda sentou ao seu lado com uma expressão etérea, uma das orelhas corroídas pela sarna.
- Não valeu a pena?- perguntou não deixando de sacudir o rabo.
- Ser o que eu sou, fazer o que eu faço, e pensar em absurdos?- ergueu uma sobrancelha - Acho que não.-
- Sempre vale a pena...por mais que você não acredite ou mesmo não enxergue!!!-
- Sério?-
- Sério.- confirmou baixando sua cabeça peluda e mal cheirosa. Ganhou um carinho na cabeça erguendo-a cada vez mais em direção àquela mão preta e encascurrada.
- Você é sabia!-
- Sabedoria é a arte do vazio, do impossível e do improvável...limitando com inteligência e se aproximando de uma função quase linear onde: sabedoria ( é diretamente proporcional) a tempo de vida.-
- Complexo!!!-
- Complexo mais necessário!-
- Eu nunca imaginaria que você fosse capaz de tal coisa...-
- Humanos adultos têm a imaginação limitada. Além do que...-
Antes de terminar a frase ergueu as orelhas e saiu correndo em disparada atrás de um carro tentando abocanhar sem êxito seus pneus. Morreu logo em seguida atropelada por uma motocicleta que vinha no sentido oposto. Ela continuo sentada na calçada e limitou-se a colocar a cabeça entre as mãos, agora estava sem companhia...
Pintura de Aksel Waldemar Johannessen:
The Vagabond and the Dog(1920)Oil on canvas, 186 x 135 cm.
The dog heralds the death of the tramp.

segunda-feira, 20 de abril de 2009


E os gênios nasceram para ser gênios, enquanto as pessoas normais, meros mortais, nasceram para serem normais. E assim as coisas continuam seu curso, lentamente e de forma gradual, como diria Charles Dawkins, extremo defensor do surgimento da mudança sem maiores estrondos ou perturbações.
Mas então como se explica o surgimento de grandes (como poderiam ser chamados?) CABEÇÕES?
Na minha humilde opinião creio que sejam saltos bombásticos, resultando em mudanças que são pontuais e não se estabelecem ou mesmo, não são passadas adiante; algo como um equilíbrio pontuado modificado (uma homenagem a Stephen Jay Gould a quem sempre admirei). Mas uma coisa é certa: ouvir o Goloboff falando sobre pesagem implícita e constante de concavidade é algo. Parece que o artigo de 1993 publicado na Cladistic tomou vida própria e começou a se auto-explicar em castelhano. Belo devaneio de uma mente sádica e ilusória como a minha...
Mas voltando aos gênios: à capacidade e rapidez de raciocínio é algo que me assusta e faça com que eu regresse à minha insignificância. Deixemos os gênios quietos em seus lugares, eu como humilde mortal continuo me esforçando e tendo dificuldades para atingir resultados medianos...
Legal é escrever coisas aleatórias, randômicas, al azar no meio de um curso de cladística. Isso é inenarrável...e eu não estar entendendo nada é mais inenarrável ainda...
Essa sou eu...
(Retirado da agenda particular levada para Esperanza
Argentina no período de 13 a 17 de Abril de 2009)




quinta-feira, 26 de março de 2009


Um fato vem me azucrinando desde as longínquas épocas do mestrado. Sempre demonstrei um interesse em saber o significado existente por trás das palavras latinizadas ou gregas que compunham os nomes científicos. Nomes que denotam alguma característica marcante na espécie são os meus preferidos. Nome de gêneros com tal peculiaridade, melhor ainda. Abro um parêntese para citar Carachata, gênero das cigarrinhas que eu estudo que é característico por ter a “cara” achatada. Pode soar mal e parecer bizarro, mas devemos admitir que foi um batismo deveras criativo Bom, mas voltando ao fato: sempre quis saber o que Kanaima significava. Kanaima foi o gênero que revisei durante o mestrado: umas cigarrinhas que tem como preferência alimentar as folhas de gravatá (Eryngium). Na época perguntei ao professor Gervásio, especialista em Cercopidae e meu orientador sobre o significado. Ele não sabia. Mandou que eu consultasse a descrição original. Lá fui eu folhar o Distant, 1909 com a esperança que acharia a etimologia de Kanaima. NADA!!!! Descrições muito antigas são, na maioria das vezes, insatisfatórias ou mesmo frustrantes (abrindo outro parêntese, saber que o inseto é vermelho com faixas longitudinais negras ajuda muito pouco no dia-a-dia de qualquer pesquisador). Enfim, a minha curiosidade não foi saciada, porém em algum tempo o assunto foi sendo, aos poucos, esquecido e novos afazeres tomaram conta da minha vida. Atualmente me encontro em Curitiba, continuo trabalhando com as ditas cigarrinhas citadas logo acima e por algum motivo, que no momento não consigo relembrar, me questionei novamente sobre a etimologia do maldito gênero. Envolvi amigos, colegas de trabalho e de profissão (isso implica que eles além de amigos eram meus colegas de curso e, além disso, eram entomólogos) nesta busca incessante ao cálice sagrado: o cálice da etimologia nomenclatural. Procurei num dicionário de latim: NADA!!!! Procurei num livro utilizado para a composição de nomes científicos: NADA!!!! Será que essa busca nunca iria ter um fim? Eu e o companheiro Lucanidae (evitando citar nomes para evitar a exposição exagerada dos meus colegas) tivemos simultaneamente a grande idéia que eu já devia ter tido há alguns anos atrás. Esse insight mudaria minha vida para sempre. Utilizamos a ferramenta Google: ferramenta potente e essencial no nosso cotidiano. Pois bem eis que surge o resultado e eis que meu carinho pelo gênero aumenta exponencialmente.

“Kanaima é o Deus do mal, representa o perverso, a vingança e a magia negra. É um espírito maligno que pode surgir em qualquer noite assumindo a forma humana, de monstro ou mesmo um animal (no caso citado um jaguar)."

Bom pesquisando mais a fundo descobri que algumas tribos indígenas da Guiana Britânica eram denominadas de Kanaima. Eram tribos de cortadores de gargantas. Educados de geração para geração na arte do assassinato, roubo e matar somente pelo prazer de matar, não somente comendo suas vítimas, mas também usando suas tíbias para a confecção de flautas e seus dentes para fabricação de colares.

Isso é incrível. Mas uma questão ainda assombra a minha mente e essa questão tenho certeza que não irá ser respondida: O QUE DISTANT TINHA NA CABEÇA AO NOMEAR ESTE GÊNERO??? Realmente um senhor misterioso se pode ser chamado assim...e quanta criatividade ao nomear esses seres tão frágeis e indefesos.