quinta-feira, 26 de março de 2009


Um fato vem me azucrinando desde as longínquas épocas do mestrado. Sempre demonstrei um interesse em saber o significado existente por trás das palavras latinizadas ou gregas que compunham os nomes científicos. Nomes que denotam alguma característica marcante na espécie são os meus preferidos. Nome de gêneros com tal peculiaridade, melhor ainda. Abro um parêntese para citar Carachata, gênero das cigarrinhas que eu estudo que é característico por ter a “cara” achatada. Pode soar mal e parecer bizarro, mas devemos admitir que foi um batismo deveras criativo Bom, mas voltando ao fato: sempre quis saber o que Kanaima significava. Kanaima foi o gênero que revisei durante o mestrado: umas cigarrinhas que tem como preferência alimentar as folhas de gravatá (Eryngium). Na época perguntei ao professor Gervásio, especialista em Cercopidae e meu orientador sobre o significado. Ele não sabia. Mandou que eu consultasse a descrição original. Lá fui eu folhar o Distant, 1909 com a esperança que acharia a etimologia de Kanaima. NADA!!!! Descrições muito antigas são, na maioria das vezes, insatisfatórias ou mesmo frustrantes (abrindo outro parêntese, saber que o inseto é vermelho com faixas longitudinais negras ajuda muito pouco no dia-a-dia de qualquer pesquisador). Enfim, a minha curiosidade não foi saciada, porém em algum tempo o assunto foi sendo, aos poucos, esquecido e novos afazeres tomaram conta da minha vida. Atualmente me encontro em Curitiba, continuo trabalhando com as ditas cigarrinhas citadas logo acima e por algum motivo, que no momento não consigo relembrar, me questionei novamente sobre a etimologia do maldito gênero. Envolvi amigos, colegas de trabalho e de profissão (isso implica que eles além de amigos eram meus colegas de curso e, além disso, eram entomólogos) nesta busca incessante ao cálice sagrado: o cálice da etimologia nomenclatural. Procurei num dicionário de latim: NADA!!!! Procurei num livro utilizado para a composição de nomes científicos: NADA!!!! Será que essa busca nunca iria ter um fim? Eu e o companheiro Lucanidae (evitando citar nomes para evitar a exposição exagerada dos meus colegas) tivemos simultaneamente a grande idéia que eu já devia ter tido há alguns anos atrás. Esse insight mudaria minha vida para sempre. Utilizamos a ferramenta Google: ferramenta potente e essencial no nosso cotidiano. Pois bem eis que surge o resultado e eis que meu carinho pelo gênero aumenta exponencialmente.

“Kanaima é o Deus do mal, representa o perverso, a vingança e a magia negra. É um espírito maligno que pode surgir em qualquer noite assumindo a forma humana, de monstro ou mesmo um animal (no caso citado um jaguar)."

Bom pesquisando mais a fundo descobri que algumas tribos indígenas da Guiana Britânica eram denominadas de Kanaima. Eram tribos de cortadores de gargantas. Educados de geração para geração na arte do assassinato, roubo e matar somente pelo prazer de matar, não somente comendo suas vítimas, mas também usando suas tíbias para a confecção de flautas e seus dentes para fabricação de colares.

Isso é incrível. Mas uma questão ainda assombra a minha mente e essa questão tenho certeza que não irá ser respondida: O QUE DISTANT TINHA NA CABEÇA AO NOMEAR ESTE GÊNERO??? Realmente um senhor misterioso se pode ser chamado assim...e quanta criatividade ao nomear esses seres tão frágeis e indefesos.